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23/08/2009

Tuaregue na Expo'98

Esta fotografia poderia ter sido tirada em Kidal, no norte do Mali, em Tamanrasset, no sul da Argélia, ou em qualquer outra parte do deserto do Sara, local onde habitam os tuaregue. No entanto, trata-se de uma fotografia tirada em Lisboa, durante a Expo’98.

A partir dos finais do século XIX, um vasto conjunto de factores, alheios à própria sociedade tuaregue, iniciam a destruição de todo um equilíbrio desta sociedade nómada, nomeadamente ao nível da organização social, política e económica, provocadas pela colonização francesa de toda a região do Sara. Com a independência obtida pelos países que formavam as colónias francesas na região, a situação do povo tuaregue agrava-se ainda mais. As fronteiras traçadas pelos poderes europeus repartem esta sociedade por vários Estados. Na actualidade, a grande maioria das tribos – confederações – encontra-se dividida. Uma sociedade sem território.

Os catálogos, panfletos e brochuras publicados aquando da Expo’98, anunciavam que a delegação da Argélia, um dos países representados na Expo, “trará uma das grandes atracções, uma caravana tuaregue, composta por 15 dromedários e uma vintena de «méharistes»” (Guia Expo da Revista Visão, Maio 1998). No Guia Oficial da Expo, lia-se na página referente à Argélia que “o visitante (...) encontrará outros viajantes provenientes do sul da Argélia, portadores de tradições, de música autêntica, contribuindo para a grande festa de Lisboa.”

Ironia do destino, os dromedários foram impedidos de entrar em Portugal, por razões sanitárias, e a representação ficou assim reduzida a cerca de 3 tendas e à tal “vintena” de tuaregues, arrumados no topo norte do recinto da Expo, numa designada zona de animação, longe de tudo e de todos. Uma espécie de metáfora da própria sociedade tuaregue! Esses “outros viajantes” não se tornaram assim numa “atracção”, representaram antes uma cultura, que continua na actualidade a lutar contra o extermínio.


© FFPaulino, 1998

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