A partir dos finais do século XIX, um vasto conjunto de factores, alheios à própria sociedade tuaregue, iniciam a destruição de todo um equilíbrio desta sociedade nómada, nomeadamente ao nível da organização social, política e económica, provocadas pela colonização francesa de toda a região do Sara. Com a independência obtida pelos países que formavam as colónias francesas na região, a situação do povo tuaregue agrava-se ainda mais. As fronteiras traçadas pelos poderes europeus repartem esta sociedade por vários Estados. Na actualidade, a grande maioria das tribos – confederações – encontra-se dividida. Uma sociedade sem território.
Os catálogos, panfletos e brochuras publicados aquando da Expo’98, anunciavam que a delegação da Argélia, um dos países representados na Expo, “trará uma das grandes atracções, uma caravana tuaregue, composta por 15 dromedários e uma vintena de «méharistes»” (Guia Expo da Revista Visão, Maio 1998). No Guia Oficial da Expo, lia-se na página referente à Argélia que “o visitante (...) encontrará outros viajantes provenientes do sul da Argélia, portadores de tradições, de música autêntica, contribuindo para a grande festa de Lisboa.”
Ironia do destino, os dromedários foram impedidos de entrar em Portugal, por razões sanitárias, e a representação ficou assim reduzida a cerca de 3 tendas e à tal “vintena” de tuaregues, arrumados no topo norte do recinto da Expo, numa designada zona de animação, longe de tudo e de todos. Uma espécie de metáfora da própria sociedade tuaregue! Esses “outros viajantes” não se tornaram assim numa “atracção”, representaram antes uma cultura, que continua na actualidade a lutar contra o extermínio.

© FFPaulino, 1998
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